segunda-feira, 14 de junho de 2010

Apenas vá em Frente. Não Saiba.

São muitas palavras ensinando neste livro. Há palavras Hinayana, Mahayana e Zen. Há palavras budistas e cristãs. Usamos palavras em inglês, em coreano, em chinês e em japonês - palavras demais! Mas todas elas são necessárias. Palavras e discurso são apenas pensamento, e pensamento causa sofrimento. Você deve jogá-las todas no lixo! E a razão disso é que a nossa verdadeira natureza não depende de entendimento. É por isso que ensino apenas o "não saber." Esse ensinamento não possuí nem Ocidente nem Oriente, nem coreano, nem japonês, ou americano. O "não saber" não é nem budista, nem cristão, nem Zen, nem coisa nenhuma.

Há vários anos, após ter ensinado no Ocidente por algum tempo, alguns de meus alunos americanos estavam reunidos para discutir o uso de certas formas de práticas na Escola Zen Kwan Um. Durante a reunião, uma das alunas perguntou: "Se tudo é Um, porque é que eu tenho que ensinar budismo à maneira asiática, ou estilo Mahayana, ou Zen. Isso não cria 'mesmo' e 'diferente'?" -Questionou ela. Pergunta muito interessante.

Eu respondi: "É, eu não ensino coreano, nem Mahayana, nem Zen. Eu nem mesmo ensino budismo. Eu ensino apenas o "não saber". Cinquenta anos aqui e ali, ensinando apenas o não saber. Portanto, apenas não saiba, certo? Apeanas não saiba, sempre e em todo lugar. A sua mente "não-sei" pode fazer qualquer coisa.

Pois bem, falamos bastante sobre Budismo Hynayana, Budismo Mahayana e Zen. Vimos como cada um deles possuí diferentes técnicas de meditação e estilos de ensino. Mas, embora o discurso e as palavras tenham sido diferentes, a espinha dorsal dos ensinamentos é sempre a mesma: Como é que podemos acordar e ajudar esse mundo, neste exato momento? Não importa qual a tradição, o objetivo de qualquer prática de meditação é ajudar todos os seres sencientes a se liberarem do sofrimento. Meditação não tem nada a ver com fazer algo especial. Nada a ver com alcançar uma experiência pacificadora, de quietude e bem-aventurança. Claro que é possível experimentarmos isso algumas vezes durante a meditação. Mas, quem é você? Quando nasceu, de onde veio? Quando morrer, para onde irá? Você pode me dizer?

A grande maioria dos seres humanos não consegue responder a essas perguntas básicas. Ao contrário, gastam toda a sua energia ocupando-se com desejos, raiva, e ignorância. Dia após dia, desesperam-se por coisas impermanentes; apegam-se a bens, fama e sentimentos e depois sofrem quando tais coisas mudam ou desaparecem. Criam o sofrimento e depois guardam-no como se fosse um precioso tesouro. Seres humanos deveriam ser os mais elevados entre os animais. No entanto, passam a vida a vagar e vagar no oceano do sofrimento. Esse não é o caminho correto dos seres humanos.

Assim, se você não controlar o seu carma, não conseguirá fazer nada nesta vida. Depois, quando morrer - quando o seu corpo desaparecer o que poderá fazer? A força do seu carma o arrastará para algum lugar qualquer. Aonde irá, você não faz idéia. Talvez você renasça em um lugar de sofrimento, ou tenha muitos problemas com o seu corpo. Somente se você cortar completamente todo o pensamento poderá retornar a sua natureza original, a qual está além da vida e da morte. O nome desse ponto é "não-saber". É muito importante alcançar isso e, depois, ajudar esse mundo. Aí então, vida e morte não mais poderão tocá-lo. É por isso que a meditação é tão importante.

[...] Se você mantiver cem por cento uma mente "não-sei", os seus demônios não poderão encontrá-lo. O sofrimento não o encontrará. O carma, os problemas, a vida, a morte, o ir e vir, o bem e o mal - nada o afetará se você apenas mantiver uma mente "não-sei". Essa mente "não-sei" é o seu maior tesouro; ela pode fazer qualquer coisa. Ela não depende de Deus, nem Buda, nem Hynayana, Mahayana ou Zen. Ela é independente da vida.

Se você deseja sair do oceano do sofrimento, apenas um tipo de bússola é necessária: a sua bússola do não- saber. Ela está sempre dentro de você. Quando você a utilizar, verá que a sua direção correta sempre aparecerá claramente à sua frente, de momento a momento.

Assim, eu espero que você apenas siga em frente, não saiba, o que é claro como o espaço, e tente, tente, tente por dez mil anos, sem parar - alcançar o
despertar e ajudar a liberar todos os seres.

Texto Extraído do Livro: A Bússola do Zen. Mestre Zen Seung Sahn. Ed. Bodigaya p.387-92.

4 comentários:

  1. Não sei se estou no caminho certo do entendimento, mas o "não-saber" é o propósito de toda prática Zen, certo?

    Digo...parece-me que a questão é nos fazer ver que o ego é uma ilusão - baseado naquelas bases da inexistência intríseca e interdependente e tal -, sendo assim, uma existência bem aventurada dependeria de vislumbrarmos o que existe para além do nosso ego, ou seja, toda a impessoalidade do universo e suas leis.

    É por aí? rs

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  2. Felipe: Apenas "não saiba" e o Universo caira no seu colo :-) "Não saber é deixar de lado julgamentos pois eles criam muitos problemas e sofrimento. Eles vem de pradões mentais que temos do que é certo ou errado. Ir por esse caminho: Ego-ilusão é muito complicado. Por isso esse estilo de zen é bem simples. Fala-se muito pouco porque pomos ênfase no agir consciente, momento a momento.

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    1. Entendi...eu compreendo também que usar palavras pra falar de algo ue não pode ser definido por elas é complicado. rs Por isso a experiência é tão fundamental. Mas eu entendo essa coisa do não julgamento. Acho que já experimentei lampejos disso durante o zazen. Mas pratico há muito pouco tempo pra afirmar algo com propriedade.

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  3. Felipe acho que se vamos continuar essa conversa vc. poderia escrever para meu email. Veja ai do lado em contato e se quiser escreva-me,ok?

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